terça-feira, 15 de julho de 2008

Búfalo Pirata

O Ministério do Meio Ambiente apreendeu cerca de 3mil cabeças de boi criados em uma Estação Ecológica no Estado do Pará, sobre o ocorrido o ministro Minc chamou de apreensão de "boi pirata", pois trata-se de uma crição ilegal no interior de unidade de conservação. Dentro desta ótica será que existe "búfalo pirata"? Não se têm notícias sobre a criação de boi pirata em reservas aqui no Amapá, mas búfalo sim.

A Reserva Biológica do Lago Piratuba no centro-leste do Estado têm, em seus 392 mil hectares, cerca de 30mil (isso mesmo, trinta mil) búfalos vivendo de maneira praticamente selvagem; entretanto, não é apenas lá que existem búfalos. Próximo à capital, na Área de Preservação Ambiental do Rio Curiaú a bubalinocultura é realizada extensivamente sem nenhum tipo de limitação. Nestas áreas os búfalos ocupam, preferencialmente, os campos de várzea que são ambientes mais estáveis para sua sobrevivência e desenvolvimento.

Por sua origem e distribuição extra-brasileira, o búfalo é um animal exótico. Tanto na Amazônia como em qualquer outro ecossistema brasileiro, os animais exóticos são tratados como sério problema para o meio ambiente local, isto ocorre porque estes animais não possuem lugar na dinâmica ecológica do ambiente em que foram introduzidos e, portanto, não possuem um papel ecológico bem definido. Isto quer dizer que inexistem, na fauna nativa, mecanismos de controle e manutenção das populações destes animais introduzidos.

A problemática da criação de búfalos nestas reservas vai muito além do simples fato de ocorrerem em reservas; a criação de búfalos nos campos de várzea destas reservas constitui um sério problema ambiental. Ao caminharem no banhado, em grupos grandes, drenam as regiões alagadas, danificam margens de igarapés, compactam o solo, alteram a dinâmica dos lagos naturais e criam canais artificiais. No Amazonas e Pará, cogita-se a idéia de que esses animais podem estar aumentando a proliferação do mosquito da malária; isso porque, ao mergulharem na água, ocorre uma redução na acidez da água favorecendo a reprodução do mosquito.


Por fim, como será que o ministro Minc vai tirar 30 mil búfalos de um campo de várzea lá no Lago Piratuba? Ou não existe "búfalo pirata"? Será que o meio de subsistência dos habitantes da APA do Curiaú deve sobressair em relação à necessidade de proteção daquela ecossistema?

Fonte da imagem: http://www.revistaterra.com.br/revista/189/imagens/6257

Um comentário:

Unknown disse...

Complicado mesmo, o problema é que a criação de búfalos no Curiaú é intensa e passou a ser praticamente irreversível. Infelizmente, nunca é feito nada pra prevenir casos como esses, tal como nas ocupações/invasões de áreas de ressaca, que todo mundo sabe que vai dar dor de cabeça no futuro, mas não fazem nada pra impedir.